sábado, 23 de abril de 2011

A arte de aprontar


Quando uma amiga me fez a pergunta retórica a respeito da tatuagem: - Doeu? E depois o comentário previsível: - Eu não teria coragem. Pensei em uma coisa que fez muito sentido pra mim e que explicaria minha "coragem": A arte de aprontar. Quem leu o post sobre a cicatriz na sobrancelha, já deve ter entendido o que quero dizer. Não vou falar que sou destemida, porque isso seria a mentira do ano, mas que certos tipos de machucado valem a pena.
Respondi pra essa amiga, que a dor da tatuagem parecia com a dor de joelho ralado. Mas não é só a dor, o sentimento também é o mesmo. Ir brincar na rua e voltar machucado é a prova de que a brincadeira foi boa, e quando a mãe nos olha com aquela cara de "aprontou de novo", nos sentimos mais triunfantes ainda. Principalmente quando sabemos que o machucado foi por uma causa nobre, como no dia em que ganhei do meu irmão.
O Bruno quase nunca brincava na rua e sempre que brincava, era do time campeão. Por questão de honra, nunca éramos do mesmo grupo e meu time sempre perdia quando ele brincava. Mas um dia fomos jogar barra bandeira e, por incrível que pareça, só sobramos nós dois. Eu estava com a bola e corri ladeira abaixo atrás dele, como se não houvesse amanhã. Desequilibrei e caí de barriga no chão, o Bruno devia estar a uns dois metros na minha frente, joguei a bola e acertei. Ele, pra não perder o respeito, ficou rindo da minha cara, mas não adiantava, eu tinha ganhado. Ganhado dele e ganhado um lindo joelho ralado.
Quando chegamos em casa naquele dia, quando mostrei a tatuagem pra mamãe, ela olhou com a mesma cara, sorriu e disse: -Doida. Me olhei no espelho, sorri e dormi doloridamente triunfante.